Adultos não têm amigos

Amizade tem prazo de validade. Assim como os enlatados. Amizade sempre acaba. Ai pode aparecer um ou outro atrás dessa tela de vidro e falar milhões de exemplos de amizades infindáveis. Tudo bobagem. Todos sabem que amizade é um momento.

Pode vir me falar daquela amizade do colégio que você carrega até hoje. Mas você sabe e sente, melhor do que ninguém, que as conversas não são mais as mesmas, que existe um esforço de todos os envolvidos para que ela não se esgote. Uma teimosia típica daqueles que não entendem a eternidade.

A amizade sempre se esgota. Às vezes a culpa é de uma viagem, de um emprego, da faculdade, da escola nova, do bairro novo e distante que você foi morar, ou qualquer outra circunstância que não justifica o fim dela. De repente o seu grande amigo, fiel companheiro, vai sumindo da sua vida. Até se tornar aquela pessoa que você cruza na rua e diz “oi tudo bem”, e segue seu caminho. No máximo um “como você está?” “onde está trabalhando?”, uma comparação básica das vidas. Mas aquela pessoa não é mais sua amiga. É um conhecido, um colega, um fantasma.

Não sei se você reparou, mas adultos não têm amigos.

Os otimistas de plantão já devem estar com as suas pedras nas mãos. Mas esses mesmos, que lêem com estranheza essas palavras, não entendem que a amizade é eterna. Toda amizade é eterna.

O tempo é como um trem veloz que corre pelos trilhos e que temos a certeza que vai nos atropelar. Como num filme de faroeste. O que não percebemos é que nós somos os trilhos. A eternidade é uma invenção humana que corta tangente a linha dos trilhos. É a teimosia humana de não se render ao tempo e as circunstancias. É negar Deus. Pactuar com o diabo. O trem passa por cima dos trilhos, mas nunca por cima da eternidade.

Já fui acusado de ser um homem nostálgico. De viver o presente com um ar saudoso. De fato, acho que vou adorar envelhecer. Ir até a varanda com uma xícara de café, sentar na cadeira de balanço, olhar umas fotos velhas e ficar rindo sozinho. Com a certeza implacável que o tempo pode me levar, mas no que é imortal ninguém toca.