Quando ela me beijou pela primeira vez, parou e olhou para mim esperando alguma reação. Não foi um beijo de verdade, foi um selo. Também não foi meu primeiro beijo. Ela era uma magricela gasguita. Lambeu o seu lábio inferior, acho que na tentativa de encontrar um gosto novo. Depois correu para dentro de casa. Eu fiquei lá sentado na areia da praia, olhei para lua e ela brilhava com força. Ao fundo o som dos meus pais, primos e tios cantando as músicas do carnaval de 98. Nada contra o carnaval, mas para mim era apenas um plano de fundo.
O tempo passou e ela continuou veraneando vizinho a minha casa de praia. Eu mudei pouco. Espinhas, cabelos na cara, no sovaco e no pau. Já ela mudou bastante, encorpou, pernas grosas, quadris largos e seios que de tão belos preenchiam com perfeição o biquíni. Ela passou e acenou, acenei de volta.
De noite me afastei das pessoas da festa e fui até a beira da praia. Ela apareceu de repente e sentou ao meu lado.
- O que esse menino tanto pensa?
- Não sei!
Ela juntou o corpo ao meu, e não demorou muito para agente se beijar. Perguntei se gostaria de namorar comigo. Ela sorriu e disse que sim. Beijamos-nos durante toda noite. Na manhã seguinte ela não estava em casa. Nem sua família. Passei 7 anos sem vê-la. Nada contra mentiras, mas aquela doeu.
O reencontro foi em um congresso que fui a Fortaleza, nos tempos de faculdade.
- Você também faz jornalismo?
- Não, to aqui porque um amigo me chamou. – ela disse quando entravamos na sala de oficina de fanzine.
- Você também faz fanzine?
- Não, to aqui por causa da maconha.
Então agente riu, fumou, riu mais ainda e fudemos no apartamento do amigo dela.
- Por que você aceitou meu pedido de namoro?
Ela não respondeu. Ficou parada completamente nua de frente para janela. O dia chegava ao fim e os raios do sol que passavam pela janela tocavam seu corpo. A cena mais parecia um quadro impressionista. Foi quando ela virou para mim e disse:
- Casa comigo?!
Nada contra os céticos e pessimistas, mas quando se é jovem arriscar é a lei.
Um dia perguntei para ela, há quanto tempo estávamos juntos.
- Vinte anos. – E me beijou.
Quando voltei do jornal no dia seguinte, ela não estava em casa. Abri uma garrafa de uísque e esperei. Em um mês, eu e meu apartamento, bebemos mais de 30 garrafas. Gosto do meu apartamento. Quando vim morar aqui escolhi o 17º andar por causa da vista.
Me estatelei no teto do carro do meu vizinho. A carcaça do carro ficou toda amassada. Nada contra meu vizinho, mas quando agente pula do 17º andar não pensa muito onde cair.
Roberto Leite
Natal, 12 de janeiro de 2008
9 comentários:
Impressão minha ou todas as mulheres, na opinião de vcs, fazem o homem se apaixonar pra depois fugir? Acontece tanto assim é?
legal o texto. dei mó valô a parada do "nada contra...". hehehehe.
né por nada ñ, mas eu escrevi um conto há poucos dias com um personagem que pula do 17º andar também. coincidência do caralho.
Eu também achei irada a parte do "nada contra"! kkkkkk
rpz, e eu faço coro com Gabi
o cara si fode td vida nos textos desses omi
qr dizer
nos de ramon ate q ainda si da bem
KKKKK!
é foda né Digão!
mas eu acho o seguinte, essa parada das doidinhas mudarem a vida do cara e se mandarem, pelo menos pra mim, é como um sonho meu. pura fantasia mesmo. uma garota que chegue na vida do bóe e venha com essa visão libertária, um desprendimento das coisas materias e socias que nos regem para o bem ou para o mal. sei lá... pelo menos pra mim não existe. por isso vai embora. é como um sonho bom que de repente acaba quando a mãe do cara o acorda para que ele tente arranja um emprego, vagabundo.
ficou foda! uma estória q prende a atenção. parabéns beto!
Pode crer, Ramon! É como aquele ditado: "Quando a esmola é muita, desconfie". kkkkk
Tem mais não é, Beto?
ramon bicho,
essas doidinhas existem
e acredite!
mudam sua vida,
pra pior omi!
Hehehe.. adorei o comentário de Digão.
E eu acho que esse omi leu "Até o dia..."
Parabéns! Adorei o texto.
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