10/01/2008

SUZANA VAI AO BANHEIRO




Felinghert está a cada dia que passa só o osso. É muito sexo. Depois que encontrou Suzana, sua vida singela mudou, deixando renovada sua antiga rotina. O pobre garoto suburbano resolveu deixar tudo para trás, estágio, escola, família, Cris Toller.


“... você deve estar se perguntando: você vai acabar comigo? Baby, já acabei. Hoje percebi o quanto perdi tempo contigo. Você foi um atraso na minha vida. Sempre preocupada com as regras, com sua família e sua imagem nessa porra de cidade... você fudeu comigo. Deixei de conhecer as coisas boas do mundo para viver a merda desse relacionamento sem graça e idiota que tive contigo. Sem sexo não vivo mais. Curta sua vida regrada e imbecil. Casamento? Espero que case, mais desejo para o seu bem, que um cabra mais escroto do que eu te foda como você realmente merece. Se bem te conheço, você agora chora e pensa se deve ou não ler até o final este email. Leia, e se não ler, que se foda. Não me importo mais. Antes de acabar, saiba que o que tu ouve na igreja, na escola, em tua casa, não necessariamente é o correto. Antes de tudo, experimente o gosto das comidas. Só assim você vai saber se é bom ou ruim. Bjos, abraços e muitas trepadas . Do teu, agora, ex-namorado Felinghert”.


Foi com esse email nesse tom de desabafo que ele acabou com Cris Toller, sua namorada de um ano e meio.

Suzana foi a responsável pela radical transformação na vida de Felinghert. Criada por uma mãe dona de casa e pai empresário, ela nunca se encaixou em nenhum grupo. Trocou de escolas até desistir de estudar. Brigou com os pais até deixar a casa. Passou a viver de bicos.

Felinghert, garoto calado e virgem, entrou na lanchonete em que Suzana trabalhava e ouviu dela um elogio sobre sua beleza, segundo ela, exótica.

Ele quis comprar apenas um cachorro-quente sem milho e ervilha como sempre pede, saiu no fim do expediente de Suzana e com algo a mais que o seu pedido inicial: ela, Suzana. Partiram não para um motel, que era o que Felinghert tinha em mente, mas sim, para a praia de Ponta Negra. “Porra, ela me parecia tão escrota”, pensou Felinghert dentro do ônibus 54, enquanto, sentado ao lado de Suzana, esperava o ponto certo de descer.

- É aqui, disse Suzana puxando Felinghert pelos braços magros.

Andaram por uns 18 minutos, à beira mar, um ao lado do outro, calados, sem se tocarem. Suzana bem agitada como se estivesse procurando alguma coisa. Felinghert bastante preocupado achando que fez merda em dar trela para esta garota que nunca viu na vida. “Provavelmente ela é louca ou quer me roubar. Que merda eu fiz em ter caído na lábia dessa moça”, pensou.

- Esse lugar está bom. Que tu acha? É bem escuro, não? Acho que ninguém vai ver nada. Disse Suzana já se sentando na grama.

- Ei Suzana, é esse o seu nome não? Pois bem, acho que fiz merda em ter vindo pra cá. Amanhã eu trabalho logo pela manhã. E... São onze e meia da noite... O ônibus demora. É melhor eu ir.

- Senta aqui. Tu não precisa se preocupar com nada. Fique só calado e deixe que eu te digo o que fazer. Deixe rolar. Disse com voz mansa e sensual Suzana.

Quando o sol apareceu em Ponta Negra e despertou os dois, Felinghert ainda estava de pau duro apesar do frio. Foi sua primeira transa. Uma transa inusitada e inimaginável.

A loucura que fez ficou em sua cabeça por três dias. As palavras que Suzana dizia, o tom de voz, a maneira descomplicada de ver as coisas. Tudo isso rondou a sua mente até o ponto em que ele não agüentou mais e foi de novo até aquela lanchonete fazer o mesmo pedido. E conseguiu pela segunda vez sair de lá com algo a mais que o pedido inicial de um cachorro-quente sem milho e ervilha: Suzana. Dessa vez não foram terminar a noite à beira mar, em Ponta Negra, foram para um motel no outro lado da cidade. “Lá tem uns motéis mais baratos”, sugeriu Suzana.

A segunda vez foi melhor e puderam conversar mais. Conheceram um pouco um ao outro. Apontaram diferenças e encontraram semelhanças. Dessas semelhanças surgiu uma cumplicidade entre os dois.

Suzana, apesar da mesma idade de Felinghert, demonstrava ter vivido mais que ele, sua experiência de vida a deixava na posição de mestra. Nas diversas conversas na cama que rolaram entre os dois, Felinghert conheceu um mundo diferente, um ângulo até então oculto para se ver a vida. Aprendeu a dar valores há outras coisas. Perdeu o emprego, se distanciou da família, viu que precisava de pouca coisa pra viver.

Decidiu ir embora, não como fuga, isso não, Suzana lhe ensinou a não fugir, “quem foge não enfrenta o medo” dizia nas madrugadas em cima do colchão. Optou por ir embora para melhor se conhecer, para melhor conhecer as coisas, para viver de forma diferente. “Sabe todas as paradas que te acorrentam aqui... acabe com elas, rompa essa corrente desgraçada e atravesse a ponte que te liga ao outro lado, o lado da liberdade e do prazer”, disse certa noite Suzana.
Felinghert ficou tão impressionado com as palavras enfáticas ditas por Suzana, palavras ditas de forma tão musical, que numa terça-feira, sem eira e nem beira, ele se foi. Não deixou bilhete, número de telefone, nada. Arrumou a mala e se foi.

Encontrou-se com Suzana na rodoviária e, juntos, pegaram um ônibus que os levassem sabe deus aonde. Desceram numa cidade pacata, estranha. Felinghert pediu uma água mineral e Suzana um café.

- Felinghert, vou ao banheiro.

Suzana foi ao banheiro, urinou, lavou o rosto na pia, se olhou no espelho, ajeitou os seios, saiu, deu uma olhada nos ônibus que estavam prestes a sair.

- Ei moço, esse ônibus vai sair de que horas?

- Agora.

Suzana subiu discretamente no ônibus, assentou-se na poltrona e foi embora com um sorriso no rosto ao ver, pela janela, Felinghert mais vivo, diferente daquele garoto com sonhos pequenos.
No balcão da lanchonete, Felinghert conversava com o atendente. Ainda esperava por ela.




Ramon Ribeiro de Souza
Natal, 04 de janeiro de 2008.

6 comentários:

Beto_Leite disse...

eu vivo com a impressão que algumas das mulheres de minha vida foram no banheiro e eu estoua a esperar...

Anônimo disse...

hehehe. é foda, beto! essas mulheres são fodas! elas vêm, transformam a vida do cara e vão embora como se o pau do cara fosse um chiclete que perdeu o açúcar.

Beto_Leite disse...

grande hunter!


Salé!

Anônimo disse...

"Andaram por uns 18 minutos" foi muito boa. Alta precisão! kkkkkk

Ramon, gosto do seu estilo. Sem frescurinhas. Foda-se tudo.

Beto, espere mais. Um dia você vai descobrir que ela não vai voltar. hehehe

Por isso que meu lema agora é: "Sacaneie antes que sejas sacaneado".

Anônimo disse...

Essa Suzana é quase uma Natasha.
O mundo de hoje esta perdido, o poste anda mijando no cachorro.
Porra, as mulheres estao criando monstros, e estragando-nos, poucos homens de carater, q ainda restamos.

Anônimo disse...

Dei maior valor a Suzana. E os homens falam tanto, mas são pelas "suzanas" q eles realmente se apaixonam.

 
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