O FREDE

Frede poderia ter comido duas donas ontem. Não, eu tenho namorada – pensou. O forró começou, vamos já dançar – veio dizendo, ao atravessar a rua e passar em frente de Frede, um rapaz. Com quem? – perguntaram ao mesmo tempo as duas donas bem vestidas encostadas no mais popular dos carros, o gol. Num sei... deixa eu ver... com ele – e apontou para Frede, respondendo às donas, o rapaz. Vem cá garoto, vem dançar com essas duas gostosas aqui dentro do carro – sugeriu o rapaz com as donas. Frede, garoto tímido com um marlboro aceso na boca, voltando pra casa depois da aula universitária, parou os seus passos longos e apressados para ouvir e hesitou. Ele começou a gostar da idéia. Já voltara dois passos. Sorria pras donas. Mas e a tua namorada, Frede? É mesmo, eu tenho uma namorada. Não posso aceitar o convite. Mas minha namorada não vai saber. Não, não posso fazer isso com ela. Ela me ama. Vem dançar com elas garoto, deixa de ser besta, aproveita a oportunidade de entrar no carro com as duas – persuadiu o rapaz, que, porém, emendou – vem, mas antes vai ter que dançar comigo. E com movimentos tipicamente caricatos de bichas amostradas, ele se remexeu todo, dançando alegremente. Vem dançar com a gente!

Porra! Merda de viado. Tá doido que eu vou dançar com ele! Voltou com seus passos largos e ligeiros e se foi na rua escura deixando pra trás um forró animado, um viado e duas donas. Era foda certa se não fosse a bicha, lamentava-se sozinho Frede.

Ramon Ribeiro de Souza
Natal, 19 de setembro de 2007