12/04/2008

Um personagem


Carregava maior parte do peso do corpo na barriga. 120, 130 kilos, eu acho. Suas orelhas eram grandes como as de um índio. Bochechas de buldogue. Camisa do Chicago Bulls. Calção de surfista e chinelo de dedo.

Chegou no fim da festa, eu acho. Montado em um mobilete, que tinha o seu banco completamente coberto pela bunda gordurosa. A motoca era tipo voz de político; alta roca e confusa. Ela anunciava, como uma corneta engembrada, que o seu dono tinha chegado.

Ninguém deu muita bola.

Ele parou, olhou para os lados, então acelerou a mobilete mais duas vezes, fazendo ela guinchar feito um porco no matadouro.

Sem sucesso.

Depois desligou. Encostou-se na parede e puxou do bolso um desodorante. “Musk”, a marca. Olhou a festa como quem não olha pra coisa nenhuma. Balançou a cabeça como um calango, sinalizando que gostava do som da banda. Derramou o desodorante na tampa. Cheirou como se fosse um nebulizador.

Em menos de 10 minutos 15 garotos, entre 10 e 12 anos, se aproximaram dele. Eles o admiravam. Isso tudo aconteceu em uma festa no setor II, eu acho.

“Uma figura” disse Ramon. “Um personagem” eu disse.

2 comentários:

Anônimo disse...

Desodorante é, Beto?! hehe

Anônimo disse...

o ilustre personagem "cheira loló". o cara realmente é um personagem. ele ainda perambula por esta capital. de todos os gordos que esta cidade está empestada, "o figura" tem seu jeito peculiar que num instante, qualquer pessoa nota na hora: "esse é o personagem do conto!".

tudo bem aquele cara cheirar loló no setor 2, mas ver aqueles playboyzinhos de 12 anos atras do entorpecente foi foda. pense numa vontade de pisar nos pirralhos como quem pisa em formigas...

 
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