Dez. Dez e meia eu acho. A noite já soprava seu vento frio. Eu estava na parada de ônibus com três amigos esperando o obvio: o ônibus. Neste dia iria acontecer o “Coca-Cola Mix”. Essa festa não passa de um desses eventos idiotas que colocam no mesmo palco bandas de POP-Lixo e Axé-Bunda, vendendo a idéia de que vão juntar em um mesmo ambiente todas as tribos. Com um ingresso que custa mais de trinta reais, não é muito difícil imaginar que as “tribos” não vão se misturar. Acho que deu pra perceber que eu não vou pro “Coca-Cola Mix”. Mas esse não é o foco do texto. O foco do texto é o short. A presença ou a ausência dele.
“Será que ela está de short?!”, Ramon perguntou. Dez. Dez e meia eu acho. Na parada de ônibus uma garota, com o vestido mais curto do que a vida de James Dean, parecia desafiar a o vento frio que a noite soprava. Eu, que estava ali meio que concentrado nas coxas brancas e bem torneadas, fui altercado pela pergunta de Ramon. A pergunta era boa. A namorada dele, que estava por perto, ouviu e não gostou. Bem, eu vejo de forma diferente.
A presença ou ausência de um short por baixo daquele vestido seria determinante para o meu pré-julgamento sobre aquela garota. Não só o meu, mas o de todos que eram ofuscados por aquelas coxas descobertas pelo vestido mais curto que o pescoço de Agnelo. A existência de um short ,ou não, seria determinante para saber se eu iria ou não aborda-la, como faria isso e os interesses que teria ao me aproximar dela. Ou seja, nas palavras do bom amigo Ramon: “Se não tiver de short é puta!”.
Provavelmente ela estava indo para o “Coca-Cola Mix”. O que não muda em nada a minha dúvida. Putas podem ter trinta reais para ir para um show como esse, ou podem ser , como eu, Pseudo-Cults e não irem para o show. Nem os sapatos, as bijuterias, a cor do cabelo, a maquiagem e nem mesmo a forma de sorrir, nada fazia com que eu chegasse a uma conclusão sobre aquela garota. Vejam vocês a que ponto cheguei, ou chegamos. Não conseguimos mais chegar a uma conclusão, que a tempos atrás seria ululante, somente usando de nossos preconceitos. O julgamento final está nos detalhes que estão encobertos. A corrida louca por uma identidade estética torna cada vez mais amorfa ou plural – não sei até que ponto essas palavras são sinônimos – a imagem da nossa sociedade. Mas isso são só perspectivas. Você também pode enxergar que por baixo de toda essa imagem, vestido e short, há uma coisa comum a todas as putas, mulheres e seres humanos. Algo animal, antiestético e assustadoramente concreto.
“ Ela ta de short!” Pedro disse. “Tem certeza?!” perguntei. “Aposto que sim!”- retrucou. Pedro é um apostador, um jogador. Eu não. Sou um analista Pseudo-Cult e a vida está cada dia mais difícil para caras como eu.
“Será que ela está de short?!”, Ramon perguntou. Dez. Dez e meia eu acho. Na parada de ônibus uma garota, com o vestido mais curto do que a vida de James Dean, parecia desafiar a o vento frio que a noite soprava. Eu, que estava ali meio que concentrado nas coxas brancas e bem torneadas, fui altercado pela pergunta de Ramon. A pergunta era boa. A namorada dele, que estava por perto, ouviu e não gostou. Bem, eu vejo de forma diferente.
A presença ou ausência de um short por baixo daquele vestido seria determinante para o meu pré-julgamento sobre aquela garota. Não só o meu, mas o de todos que eram ofuscados por aquelas coxas descobertas pelo vestido mais curto que o pescoço de Agnelo. A existência de um short ,ou não, seria determinante para saber se eu iria ou não aborda-la, como faria isso e os interesses que teria ao me aproximar dela. Ou seja, nas palavras do bom amigo Ramon: “Se não tiver de short é puta!”.
Provavelmente ela estava indo para o “Coca-Cola Mix”. O que não muda em nada a minha dúvida. Putas podem ter trinta reais para ir para um show como esse, ou podem ser , como eu, Pseudo-Cults e não irem para o show. Nem os sapatos, as bijuterias, a cor do cabelo, a maquiagem e nem mesmo a forma de sorrir, nada fazia com que eu chegasse a uma conclusão sobre aquela garota. Vejam vocês a que ponto cheguei, ou chegamos. Não conseguimos mais chegar a uma conclusão, que a tempos atrás seria ululante, somente usando de nossos preconceitos. O julgamento final está nos detalhes que estão encobertos. A corrida louca por uma identidade estética torna cada vez mais amorfa ou plural – não sei até que ponto essas palavras são sinônimos – a imagem da nossa sociedade. Mas isso são só perspectivas. Você também pode enxergar que por baixo de toda essa imagem, vestido e short, há uma coisa comum a todas as putas, mulheres e seres humanos. Algo animal, antiestético e assustadoramente concreto.
“ Ela ta de short!” Pedro disse. “Tem certeza?!” perguntei. “Aposto que sim!”- retrucou. Pedro é um apostador, um jogador. Eu não. Sou um analista Pseudo-Cult e a vida está cada dia mais difícil para caras como eu.
Beto Leite tem 20 anos está solteiro e só toma Pepis. Um dos seus livros prediletos é o Alienista de Machado de Assis
2 comentários:
Muito bom!
Aquela garota da parada me trouxe confusões. Não penso mais nela nem no vestido, nem se tem short, nem se é puta, se é virgem, se é homem, se num é, num penso mais em nada.
bom texto seu analista fudido!
muito massa o texto! Gostei muito mesmo.
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